VOCÊ CONHECE: MACHADO DE ASSIS?

"Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto (...). Ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." - capítulo 160, de Memórias Póstumas de Brás Cubas

Um dos maiores escritores em Língua Portuguesa e considerado por muitos o maior expoente da literatura brasileira, Machado de Assis foi, desde cedo, um desafiador de seu tempo. Nascido pobre no subúrbio do Rio de Janeiro, estampado na pele escura sua ascendência negra, sem poder ir à escola regularmente e de saúde frágil, Joaquim Maria Machado de Assis bem poderia ter sido um menino qualquer de periferia que se deixou levar pelos obstáculos da vida. Quis ele, porém, que seu destino tivesse a tônica do improvável.

Com talento inigualável para as letras, Machado de Assis assinou, ao longo da vida, dezenas de obras, entre romances, poesias, contos e peças de teatro. O autor de obras-primas, como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Dom Casmurro" e "Quincas Borba", teve seus méritos reconhecidos ainda em vida e desfrutou da fama merecida.

Filho do operário Francisco José de Assis - um mestiço de negros e portugueses - e de Maria Leopoldina Machado de Assis, Joaquim Maria nasceu em 21 de junho de 1839. Sua mãe morreu  quando ele ainda era pequeno e a mulata Maria Inês passou a cuidar de sua criação - foi a madrasta quem o matriculou na escola.

Joaquim Maria cresceu no Morro do Livramento. Quando seu pai morreu, em 1851, Machadinho - como era chamado - precisou dividir o tempo entre a escola e o trabalho. Começou a vender doces feitos por Maria Inês. O fato de a necessidade o empurrar para longe dos bancos escolares não foi impedimento para sua vontade de aprender. Autodidata, diz-se que antes dos 10 anos, o menino já sabia ler.

Em 12 de janeiro de 1855, aos 16 anos, Machado de Assis teve a oportunidade de mostrar seu dom literário ao publicar o poema "Ela" no jornal Marmota Fluminense. A publicação pertencia a Francisco de Paula Brito, que costumava abrir espaço em suas páginas a novos talentos. A porta se abria e o promissor jovem dava início ali a sua vasta produção literária.

No ano seguinte, o futuro escritor empregou-se como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, cujo diretor era Manuel Antônio de Almeida, autor de "Memórias de um Sargento de Milícias". Consta que o diretor Almeida tornou-se protetor do aprendiz Joaquim Maria.



Em 1858, Machado de Assis voltou a trabalhar com Francisco de Paula Brito. Conheceu José de Alencar e Gonçalves Dias, que viriam a se tornar dois dos mais famosos escritores brasileiros. Em seguida, arrumou emprego como revisor e colaborador do jornal "Correio Mercantil" e logo passou a integrar a equipe do "Diário do Rio de Janeiro". Ao mesmo tempo, escrevia textos para outras publicações.

Assim, Machado de Assis pôde exercitar seu ecletismo literário. A primeira vez que assinou uma obra foi em 1861, com a peça "Queda que as mulheres têm para os tolos", na qual aparece como tradutor. Em 1864 foi publicado "Crisálidas", seu livro de estreia em poesia. Seus primeiros contos foram reunidos em "Contos Fluminenses", de 1870. Dois anos depois, foi lançado "Ressurreição", que inaugurou a linha de romances.

A vida de Machado de Assis fora da tinta e da pena também ganhava novos contornos. Em 12 de novembro de 1896, ele se casou com Carolina Augusta Xavier de Novais. Sua mulher, notadamente culta, apresentou-lhe as grandes obras da literatura portuguesa e inglesa. Foram 35 anos de união, até a morte da esposa, em 1904. Em sua homenagem, surgiu o soneto "Carolina".

Logo após ter lançado "Ressurreição", Machado de Assis aceitou o cargo de oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Como funcionário de carreira, o escritor pôde estabilizar sua vida financeira. Em 1889, alcançou o posto de diretor da Diretoria do Comércio. Manteve a publicação de textos de sua autoria em folhetins de jornais e revistas e, no tempo livre, dedicou-se às suas obras.

A partir de então, inaugurou-se uma nova fase nas produções do escritor. O marco da mudança ocorreu em 1881, com "Memórias Póstumas de Brás Cubas", obra que deu início ao movimento Realista no Brasil. O brilhantismo de Machado de Assis rendeu ainda outros quatro romances de envergadura na literatura brasileira: "Quincas Borba", "Dom Casmurro", "Esaú e Jacó" e "Memorial de Aires".

A paixão literária de Machado de Assis extrapolou o papel. Reunido a um grupo de intelectuais, teve participação ativa na criação da Academia Brasileira de Letras. Aberta em 1897, a instituição teve o próprio Machado como primeiro presidente, que ocupou o cargo até a sua morte, em 29 de setembro de 1908.

OBRAS

Antologias

Obras Completas (1936), Contos e Crônicas (1958), Contos Esparsos (1966), Contos: Uma Antologia (1998)


Contos


Contos Fluminenses (1870), Histórias da Meia-Noite (1873), Papéis Avulsos (1882), Histórias sem Data (1884), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1899), Relíquias da Casa Velha (1906)



Peças


Queda que as Mulheres Têm para os Tolos (1861), Desencantos (1861), Hoje Avental, Amanhã Luva (1861), O Caminho da Porta (1862), O Protocolo (1862), Quase Ministro (1863), Os Deuses da Casaca (1865), Tu, só Tu, Puro Amor (1881)



Poesias


Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), Poesias Completas (1901)



Romances


Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878), Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908)



Quais dessas obras você já leu?
Beijos e boas leituras!

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