ESAÚ E JACÓ - MACHADO DE ASSIS


"Esaú e Jacó começa com a visita de Natividade, grávida de gêmeos, e sua irmã, Perpétua, a uma cabocla do Morro do Castelo. A futura mãe queria conhecer o destino dos filhos gêmeos, Pedro e Paulo. A previsão da cabocla é animadora: “serão grandes”. Isso, porém, não é suficiente para desfazer a inquietação de Natividade, que se preocupa com as possíveis brigas dos irmãos ainda no ventre.


Ao chegar em casa, a mulher relata as previsões a Santos, seu marido. O homem fica feliz, mas resolve procurar o amigo e mestre espírita Plácido para saber sobre as brigas. O amigo o tranquiliza, afirmando que os meninos seriam grandes homens e por isso brigavam antes mesmo do nascimento."




Informações Gerais:

Ano: 1979
Páginas: 235
Editora: Egéria
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Minha nota:


O título é extraído da Bíblia, remetendo-nos ao livro do Gênesis do Antigo Testamento. Na história bíblica, Rebeca e Isaac, mãe de filhos gêmeos, privilegia o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendo-os inimigos irreconciliáveis. 

"Era Isaac da idade de quarenta anos, quando tomou por mulher a Rebeca. E Isaac orou insistentemente ao Senhor por sua mulher, porquanto era estéril; e o Senhor ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu. E os filhos lutavam dentro dela; então foi perguntar ao Senhor. E o Senhor lhe disse:  - Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor. E cumprindo-se os seus dias para dar à luz, eis gêmeos no seu ventre." Gn 25:20-24

No romance de Machado de Assis, a inimizade dos gêmeos Pedro e Paulo não tem uma causa explícita, daí a denominação de romance "ab ovo" (desde o ovo). É o romance da ambiguidade, narrado em 3ª pessoa, pelo Conselheiro Aires. Pedro e Paulo seriam "os dois lados da verdade" e todas suas características são opostas propositalmente. 

À medida que vão crescendo, os irmãos começam a definir seus temperamentos diversos: são rivais em tudo. Paulo é impulsivo, arrebatado, Pedro é dissimulado e conservador - o que vem a ser motivo de brigas entre os dois. Já adultos, a causa principal de suas divergências passa a ser de ordem política - Paulo é republicano e ingressa na faculdade de Direito em São Paulo e Pedro, monarquista, cursa Medicina no Rio de Janeiro. Estamos em plena virada da monarquia para a república no Brasil, quando decorre a ação do romance. 

Até em seus amores, os gêmeos são competitivos. Flora, a moça de quem ambos gostam, se entretém com um e outro, sem se decidir por nenhum dos dois: é retraída, modesta, e seu temperamento avesso à festas e alegrias levou o Conselheiro Aires a dizer que ela era "inexplicável". Eu a chamaria de enigmática. 

O Conselheiro Aires é mais um grande personagem da galeria machadiana, que reaparecerá no próximo e último romance do autor: velho diplomata aposentado, de hábitos discretos e gosto requintado, amante de citações eruditas, muitas vezes interpreta o pensamento do próprio romancista. Devido ao seu afeto com a Natividade, por vezes, insinua-se que Aires seja o verdadeiro pai dos gêmeos (será?). Neste livro, Machado de Assis se mostrou cauteloso e distante e até ousou dizer que os escritos eram na verdade, de Aires e ele foi apenas um editor de seus textos, encontrados num caderno com 7 diários. Na época em que o livro foi publicado, Machado já estava aposentado de sua carreira como diplomata.

As divergências entre os irmãos continuam, muito embora, com a morte de Flora, tenham jurado junto a seu túmulo uma reconciliação perpétua. Continuam a se desentender, agora em plena tribuna, depois que ambos se elegeram deputados em partidos diferentes. Paulo era do liberal e Pedro do conservador; e só se reconciliam ao fim do livro com novo juramento de amizade eterna, este feito junto ao leito da mãe agonizante.

Esaú e Jacó foi o penúltimo livro escrito por Machado de Assis (era para ter sido o último, mas acabou ainda lançando o Memorial de Aires), publicado em 1904. A importância desta obra é que o autor examina as transformações políticas e sociais da época, fazendo um retrato do Brasil às vésperas da Proclamação da República. O autor descreve com certo olhar de ceticismo o declínio do Império desde 1871, as incertezas, a preocupação do povo e principalmente, a futilidade do povo brasileiro. Um exemplo é o caso do personagem Custódio que pede ajuda ao Conselheiro Aires sobre o novo nome de seu estabelecimento (Confeitaria do Império?) quando havia muito mais com que se preocupar, já que a nata política permaneceria a mesma com a mudança de governo.

Apesar disso, foi muito criticado por ser um romance sem enredo nenhum, portando várias digressões, episódios e discussões políticas/filosóficas sem importância. Além disso, o final é uma incógnita (ninguém sabe ao certo se a profecia dita pela cartomante se cumpriu). De todos os livros do autor que li até aqui, esse é o mais "chuchu" (sem graça).

 Este livro foi lido para o #DesafioMachadão (mais informações no Instagram @jardim_dos_livros). 




Vamos embarcar nesse desafio?
Beijos e boas leituras!

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