PEDRO MALASARTE | CONTOS DA CAROCHINHA #4
PEDRO MALASARTE
Pedro Malasarte ou Pedro das Malas Artes, era assim chamado devido às inúmeras travessuras e más artes que vivia a fazer para desespero da sua família.Desde muito pequeno o Pedrinho foi levado da breca, incorrigível.
Em casa, no colégio, na rua - onde houvesse crianças - qualquer estrepolia, qualquer má partida que aparecesse, ninguém perguntava o autor, porque havia de ser necessariamente feita por ele.
As suas travessuras que passaram à tradição e nos chegaram, dariam matéria para um grosso volume, se quiséssemos contá-las.
Por isso, narraremos apenas algumas.
Os pais de Pedro Malasarte, vendo que não podiam mais contê-lo, e que ele estava em idade de trabalhar e ganhar dinheiro, mandaram-no procurar ocupação.
O rapaz saiu de casa, e depois de se dirigir a vários lugares, chegou a uma estrada deserta, longe de qualquer povoado.
Achava-se com fome, e sentando-se à margem do caminho, fez fogo para cozinhar a comida que levava.
Tirou do saco uma panela de ferro que a mãe lhe havia dado, acendeu uma pequena fogueira e colocou dentro da vasilha carne seca, abóbora, cebola, alho, sal, gordura e água. Esperou pacientemente que o jantar estivesse preparado.
Quando a comida estava pronta e a água borbulhando, viu aparecer ao longe, alguns homens que conduziam numerosa récua de porcos. Imediatamente o imaginoso rapaz ideou mais uma partida.
Cavou depressa um buraco no chão, enterrou os tições e as cinzas, e espalhando a terra, pôs o caldeirão em outro lugar.
Os homens, que eram mercadores de porcos, chegaram alguns minutos mais tarde.
Vendo aquele moço acocorado perto da panela que fervia, perguntaram-lhe muito espantados o que é que estava fazendo.
- "Pois os senhores não estão vendo? Estou cozinhando", respondeu.
- "Sem fogo?!", inquiriram os porqueiros.
- "Certamente", tornou Pedro. "Esta panela é encantada. Quando quero cozinhar basta por a comida que desejar e água, e ela começa a ferver por si."
Os homens consultaram-se algum tempo, lembrando que aquele objeto lhes seria de grande vantagem para as suas longas viagens.
Propuseram comprá-la.
- "Conforme. Estou pronto a vender a minha panela mágica. A questão é o preço."
Depois de regatear muito tempo, Pedro Malasarte aceitou os duzentos porcos que traziam, e os mercadores despediram-se contentíssimos, julgando terem feito excelente negócio.
Quando Pedrinho se viu possuidor daqueles animais, dirigiu-se para a fazenda situada a algumas léguas de distância e ofereceu-os à venda.
O fazendeiro aceitou, e empregou-o para guardá-los. Pedro acedeu, recebeu dois contos e ficou sendo guardador de porcos, com casa, comida roupa e ordenado.
A primeira coisa que o rapaz tratou de saber foi dos hábitos do patrão.
Viu que era um fazendeiro riquíssimo, mas muito ignorante e tolo, fácil de ser enganado, bem como a esposa.
Pedro Malasarte vivia no campo, guardando porcos.Um dia apareceram-lhe tropeiros e perguntaram-lhe de quem era aquele gado, e se o queria vender, e o preço.
O moço disse que os porcos eram seus, e vendia-os, por três contos, porque já estavam gordos e crescidos, mas declarou que só os venderia sem rabo.
Os compradores sujeitaram-se à condição e levaram a porcada.
Então arrumou a trouxa, e voltou à ceva, e enterrou todos os rabinhos. Saiu dali correndo, e foi chamar o patrão, exclamando muito aflito que os porcos estavam se enterrando pela lama a dentro. O fazendeiro voou e ficou espantado vendo que era verdade o que o empregado lhe dissera. Como estavam um pouco distante da casa, mandou-o buscar dois alviões para desenterrar o gado.
Pedro dirigiu-se à fazendeira e disse-lhe que o patrão mandava buscar dois contos de réis. A mulher não acreditou, mas ele gritou:
- "'Ô patrão! Não foram dois que mandou buscar?" E fez sinal com os dedos.
- "Foram, sim", respondeu o fazendeiro. "Traze-os depressa."
A mulher, em vista daquilo entregou os dois contos de réis ao rapaz, que fugiu da fazenda. Levava consigo sete contos.
Com essa quantia, Pedro Malasarte estabeleceu-se, e veio a ser negociante rico e considerado.
O fazendeiro vendo que o empregado não aparecia, puxou o primeiro rabo, que saiu sem dificuldade, do mesmo modo que os restantes. Viu-se roubado, mas nada pôde fazer, porque Pedro havia desaparecido.
FIM!
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