IRACEMA - JOSÉ DE ALENCAR

"A história de amor entre Iracema e Martim é o condutor deste romance, que se passa nas matas do Ceará no século XVII. Iracema é filha de Araquém, pajé dos tabajaras, e guardiã do segredo de jurema, símbolo da fertilidade de sua nação. Martim é o estrangeiro que vive com os pitiguaras, inimigos dos tabajaras. Do encontro entre os dois nasce um amor espontâneo que marcará para sempre o destino deles. Entre guerras e conflitos, ciúmes e disputa de poder, a história desse amor proibido tem como pano de fundo a cultura indígena, com seus deuses e mitos, a miscigenação do branco com o índio e o surgimento de um novo país numa terra fértil."



Informações Gerais:
Ano: 1980
Páginas: 91
Editora: Ática
Comprar: www.saraiva.com.br
Minha nota:




Este é um clássico da nossa literatura. E, a maioria das pessoas, quando escuta dizer "clássico da literatura" já se apavora porque sempre ouviu dizer que são muito chatos, complicados de se ler e de se entender. Mas não é assim! Quando você lê um clássico precisa entender o contexto no qual foi escrito, a época histórica em que esses autores viveram.

Além do mais, você pode ler um clássico só pela história de amor que ele têm, achar tudo muito lindo... mas há aqueles que nem chegam perto de achar esses livros bacanas, porque não suportam as palavras difíceis utilizadas na época que, por algum motivo, não foram trazidas para o nosso tempo. Preferem ler porcarias que estão sendo lançadas, cada vez, com mais facilidade. Não quero criticar seu gosto literário, também leio porcarias de vez em quando, pra descontrair. Só quero mostrar a importância de você também ler os clássicos, que são parte da essência brasileira, quase uma busca pelas origens. Todo leitor que gosta mesmo de ler, de pesquisar a fundo sobre a literatura do seu país deveria ler um clássico. E por que não começar com Iracema?

Iracema faz parte da chamada Trilogia Indianista de José de Alencar, no qual todos tinham a temática de descoberta do Brasil: o Guarani, Ubirajara e Iracema. Este livro foi escrito num período chamado Romantismo, mais precisamente no final do século XIX e também final do romantismo. Nessa época, o Brasil passava pelo Segundo Reinado quando Dom Pedro II declarou-se maior de idade, dando um golpe político promovido pelos liberais e assumindo o trono. Também há a questão da guerra pela invasão do Brasil entre União Ibérica (centralização dos governos português e espanhol sob um mesmo governo) e ingleses, holandeses e franceses.

Enfim, nesse momento havia um forte sentimento nacionalista (de vangloriar as descobertas e riquezas do país) que se declarava através dos artistas em pinturas, livros, músicas, etc. E José de Alencar retratou o Brasil em sua obra cheio de lindos elogios, como sendo uma mata enorme e virgem com centenas de homens e mulheres peladas, que só conheceu a civilização quando os portugueses chegaram ali. Essa é a nossa ideia de descobrimento do Brasil!

No começo do livro, Alencar diz que a história que ele irá narrar aqui, ele ouviu como sendo uma lenda, quando ainda era criança, lá no Ceará. Temos então dois personagens principais: a índia Iracema e o estrangeiro-português Martim. O estrangeiro chegou e ao adentrar na mata, logo viu a índia, o que se consagrou um amor à primeira vista. Não é por menos, Iracema era a virgem dos lábios de mel, tinha cabelos negros e longos, muito bela, de hálito perfumado (mesmo sem escova e creme dental, pode acreditar que sim rs). A paixão entre eles é mútua, mas proibida; já que são de tribos diferentes e que Iracema sendo filha do cacique, deveria permanecer virgem, guardando o segredo da Jurema. No entanto, como fruto dessa paixão nasceu Moacir (nome que significa: filho da dor). A partir daí, Martim tem que se tornar um índio tabajara, passando por todo o ritual de batismo.

Moacir representa na história o primeiro brasileiro, resultado da miscigenação índio-português. Daí podemos discutir o fato de que José de Alencar era conservadorista e que por isso, exclui tão severamente a presença do negro, que também teve sua atuação como escravo nessa fase de colonização do país. O autor trata a população negra como subumanos ou mais radical, como se não existissem. O final é tão triste, tão dramático...

Essa obra é totalmente representativa, pois:

Iracema: representa o Brasil, a mata virgem, a América.
Martim: representa a civilização que tomou o Brasil (Iracema).
Moacir: representa a miscigenação, o nascimento da população brasileira. E,

 Iracema + Martim = Moacir

Uma curiosidade bem interessante é que o nome Iracema é um anagrama. Anagrama é uma transposição de letras de uma palavra ou frase para formar outra palavra ou frase diferente, veja:

IRACEMA ... AMÉRICA

Minha edição é didática e faz parte da Série Bom Livro publicada pela Editora Ática. E assim, não tenha medo das palavras estranhas, eu pesquisei várias durante a leitura, não vejo problema nisso porque aprendi muitas coisas legais, de cultura indianista também. Na maioria das páginas, há uma nota de rodapé com explicações do próprio autor. É a minha primeira experiência com o autor, e quero ler as outras obras dele. Este livro já está em domínio público e você pode baixá-lo na íntegra, clicando aqui!  Dei 4 estrelinhas como nota porque o final me surpreendeu, mas também tem todo um significado histórico.

Bom, espero que se você ainda não leu, dê uma chance à obra. E me diga nos comentários: 

QUAL A CAPA MAIS BONITA DE IRACEMA?


Até a próxima semana, beijos!

Comentários

  1. Oi Heloísa.

    Eu reli este clássico ano passado, mas minha edição é bem velhinha, acho que comprei ela em 1994.Concordo com você quando disse que o final final seja tão triste, mas vale a pena e valorizar os clássicos.

    Bjos

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  2. Oi, até hoje não li esse livro (vergonha), mas eu nem me atentei ao fato dele ser um livro de José de Alencar, um autor que eu admiro sua escrita e gosto dele, com certeza irei lê-lo em breve, já que não leio muitos classicos brasileiros, e acho que vou começar a fazer isso lendo esse livro. Das capas eu gostei da 1, 2 e 13, para mim, as mais bonitas.
    bjus

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  3. Oi Helo.

    Bela crítica!

    Já faz um bom tempo que li este livro assim como outros clássicos da literatura brasileira, muitas vezes por obrigação, mas tb houve outras por iniciativa própria. Mas suas observações foram muito pertinentes. Só tenho a colocar uma observação sobre a visão de "civilização" que a história parece transmitir (assim como outros elementos sociais) q vc registrou muito bem: devemos nos colocar no momento temporal tanto da enredo qto do autor. Mas este conceito está em desuso atualmente até pq hj é politicamente incorreto colocar "civilizações" superiores a outras. Parece fácil chamar hj estes autores de "racistas", mas as suas realidades eram muito diferente das q temos agora.

    Sucesso pra ti!

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  4. Esse foi um dos primeiros livros que li, e lembro o quanto adorei a leitura. Gostei bastante da sua resenha, o livri realmente tem um final triste, mas a leitura é encantadora mesmo assim. Parabéns pela resenha.

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  5. Oi Helo, a capa mais bonita com certeza não é a da Série Bom Livro, rs, tenho alguns dos livros da coleção aqui, e sinceramente, eles deixaram muito a desejar nas capas. A de número 3 e 13 são muito bonitas.
    Amei sua postagem, contando todo o contexto histórico da época, a nossa área de resenhas precisa de mais disso.
    E sobre ler porcarias, eu entrei esse ano fazendo uma separação dos meus livros, do que era essencial e do que não era, acabei me desfazendo de uns que só estavam fazendo volume e não iriam me acrescentar em nada, e já consegui adquirir outros bons livros que levarei para o resto da vida. O que me incentivou mais a prosseguir assim foram dois vídeos, um da Tatiana Feltrin do TLT (falando sobre o Sebinho TLT) e outro da JPluftz (falando sobre a nossa Biblioteca Básica), sugiro que assista.
    Ainda não li Iracema, mas você me deu o pontapé que precisava, vou separar o livro e ler assim que possível.
    Pretendo ler mais clássicos nacionais esse ano também.
    Bjs.

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  6. Olá!
    A capa mais bonita na minha opinião é a 1. Bem construída e cheia de reviravoltas. Nunca li nada do autor, mas sei que ele é muito bem recomendado pelos leitores. Quem sabe leia ainda esse ano.
    Beijinhos!

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  7. Eu acho que a resistência das pessoas aos clássicos tem um pouco de preguiça e um pouco de revolta por conta da obrigatoriedade de leitura em alguns anos escolares,seria tão bom se fosse feito um trabalho que associasse a leitura dos clássicos ao prazer da descoberta ,acho que ficaria mais fácil. Eu amo os clássicos,mas confesso que li poucos nacionais nessa categoria,mas tenho muita vontade de mudar isso, acho extremamente importante um ponto que você tocou lá em cima na resenha,pensar em como era a época em que o livro foi escrito,como era a realidade do autor e das pessoas a sua volta,isso é mágico...

    Ótima dica de leitura e espero conseguir ler em breve.

    bjsss

    Apaixonadas por Livros

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  8. Olá, tudo bem?

    Eu gosto de ler clássicos, apesar de fazê-lo raramente, não tenho problema algum com isso. Em específico, deste, não curti pois a história não me convenceu (já o li a alguns bons anos atrás). Bom, sei que você não está julgando - como você mesma disse - mas achei infeliz a colocação "porcarias", afinal, o que você considera porcarias pode ser considerado bom por outros, achei desnecessário esse termo, mas enfim, opiniões são assim mesmo, divergem.

    Beijos!

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  9. Oi, tudo bem?
    A capa que mais gosto é a da Martim Claret!
    Li este livro quando tinha entre 12 e 14 anos, na época que lia os livros da biblioteca da escola e me lembro que gostei muito.
    Bjs

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  10. Parabéns por sua resenha, flor!
    Você conseguiu não apenas dar sua opinião sobre o enredo, seu desenvolvimento e a narrativa do autor como também trouxe elementos que enriqueceram meu entendimento sobre a obra. Não sabia que ela fazia parte de uma "trilogia" na qual o autor deu destaque ao descobrimento do Brasil. Uau. Isso realmente me encantou, porque não pensava em ler Iracema. Gostei da proposta, da personagem e do modo como as coisas parecem acontecer. :) Vou ler, com certeza! Ah, as melhores capas (em minha opinião) são a 1 e a 13.

    Beijos!
    www.myqueenside.com.br

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